segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Cartas que não serão entregues

Belo Horizonte 2009

Lilo

Não sei ao certo dizer quanto tempo não nos vemos, quanto tempo não nos falamos, mas acredito que não há distância e nem mesmo esquecimento, para te falar a verdade não sei se algum dia essa carta estará em suas mãos, mas escrevo não na esperança de você ler, mas no sentimento de ter feito, de ter colocado meu desejo em palavras, pois existe muitas delas nessa minha cabeça descompassada.
Ontem folheando o nosso livro O mundo de Sofia, achei um bilhete com seu nome dentro, lembrei então que foi nosso gosto em comum que nos aproximou e nos uniu, lembrei da sua mania de andar na rua de meias e chinelo, de calça de moletom e sem camisa, de ver você tomando café no ponto de ônibus, com seu cigarro acesso, sua cara de sono, seu mau humor matinal, dos cabelos despenteados e com bolinhas de coberta nos cachos e o livro debaixo do braço.
Lembrei que foi em uma dessas situações que puxei conversar com você, e você meu querido foi super grosso, me deu uma má resposta e nem sequer olhou na minha cara, pegamos o mesmo ônibus, eu fiquei puta e muito sem graça, anoite cruzei com você na rua, eramos vizinhos eu não sabia, você me olhou diferente e eu não dei ideia, fui embora e não olhei para trás.
No dia seguinte la estava você, do mesmo jeito, eu fiquei na minha e você chegou perto e me deu um bombom, um sorriso e um pedido de desculpas, nunca mais brigamos, pelo contrario, viramos amigos, unha e carne, e por momentos fomos mais do que amigos, mas sempre amigos, amizade acima de tudo.
Não sei se hoje você ainda é meu amigo, afinal tudo mudou, você foi embora, eu fui embora, o tempo passou e a vida nos levou para outro caminho e outros amigos. E eu sei, eu sinto que somos feitos de fases, de momentos e lembranças, mas ultimamente tenho sido feita também por saudade. Uma saudade não do passado, mas das pessoas boas, dos amigos bons e principalmente dos sentimentos e da vida compartilhada com tanta leveza.
Achei sua foto dentro do meu diario de 2004, com os seguintes dizeres:

Saudade
Dos seus cachos na minha mão
dos dedos no violão
da vodca, da cama cheia
da Janis cantarolando no vinil
da risada solta
e do incenso queimando ao lado da cama.

Todas essas palavras abriram um sorriso e um choro calado, porque hoje não tem mais isso, não tem risada solta do nada, não tem sua mãe fritando frango na cozinha enquanto faziamos batidas de frutas frescas com rum, nem seu olhar doce sobre meus questionamentos, hoje não tem Você, hoje não tem Eu.
Não pude compartilhar minhas últimas descobertas e ganhos, nem contar meus enganos, não gritei minha alegria no seu quarto, nem bebi sua "bebida" para minha tristeza descer melhor, não teve festas no jardim, com gnomos safos, nem Coca com Presidente, muito menos vodca com abacaxi ou melancia, acabaram os filmes no sofá com brigadeiro.
Ficou Eu aqui, você não sei onde e uma saudade em todo lugar.

Noéle Gomes

5 comentários:

  1. Ai, Noh, que carta boa, eu concordo, precisava ser escrita. Bons tempos e boas amizades merecem saudade, e merecem ainda mais palavras tão boas como essas. Espero que ele leia, mas se não ler, tenho certeza que de alguma forma, seus sentimentos, sua energia chegará até lá. beijos grande, querida.

    ResponderExcluir
  2. Sou a favor das cartas... elas não deveriam ser esquecidas..
    Adorei o post como sempre vc brilha...

    bjos

    ResponderExcluir
  3. Ei, minha linda!

    Entendo de que saudade vc está falando... Entendo de tempos bons,passados em companhia de almas boas.
    Sei de certos garotos que aparecem,tocam o coração da gente em lugares nunca explorados e viram uma companhia peculiar, com sutilizas e olhares que nunca encontramos em ninguém do sexo feminino.

    Um dia se comportam como irmãos, no outro são como pais,nos dando bronca sem dó... Um dia são moleques a aprontar peraltices em parceria conosco, no outro são como o filho que se machucou no pique-pega e vem pedindo mercúrio-cromo e sopro no joelho ralado...

    De repente eles adquirem um charme irrestível e ficamos na dúvida se isso surgiu deles ou a da nossa carência. E tiramos a prova. Depois passa...

    Aí eles começam a ganhar páginas na nossa história e, de repente, se vão...

    A vida tem dessas coisas, né, minha querida? Às vezes pegamos o bonde na direção contrária daqueles que por muito tempo sentaram ao nosso lado no mesmo vagão.

    Eu tenho um amigo assim. Tenho uma lembrança assim.

    Ele se chama Danilo, mora perto do mar e não tem dado notícias (assim como eu). Mas sabe de uma coisa? Não me esqueço dele NUNCA!E sempre que me lembro, tenho saudades!

    Ai, ai...

    Curta essa noite fresca depois de uma tarde de chuva! Desejo que assim a saudade do seu Lilo passe ou se torne ainda mais gostosa.

    Bjo!

    ResponderExcluir
  4. Aooooww...é...
    saudaaades de tudo!
    bons tempos aqueles!
    Obrigada pelas palavrass..li o mail, mas resolvi vir comentar aquii!!
    beeeijo nega

    ResponderExcluir
  5. Clarice minha menina na janela, também queria que ele visse todas essas palavras, mas não sei como, mas um dia quem sabe eu não ganho esse presente.
    Mil bjuxxxxxx

    Aninha flor, eu amo as cartas, não deveriam se perder nunquinhaaaaaaaaa

    Natttttttt Natttttt, nem me fale da saudade, ultimamente anda batendo muito na minha porta.

    Noele metade minha, realmente vc entendeu os pontos, ja passou por isso e sabe o gosto dessa saudade, as vezes é doce, as vezes amarga, mas sempre ha um gosto, um cheiro, uma sensação.
    Ele foi tudo isso na minha vida e eu não sei se ele sabe, mas não importa as palavras e sim todas as ações, vida e olhares.


    É saudade, saudade e saudade
    BEIJOS MINHA AMADA.

    ResponderExcluir